domingo, 13 de novembro de 2011

A minha dor


A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

2 comentários:

  1. Querida Rafaela,
    Gosto muito de Florbela Espanca. O ter escolhido estes versos é porque lhe dizem muito. Acho que estamos as duas a viver um momento muito difícil do luto: aproxima-se um ano e a minha querida sente uma dor profunda: as saudades do que viveu com o Afonso e a dor de ter sido a última a vê-lo e nas condições que foram.
    Se assim fôr levante essa moral pois tem o mundo à sua frente. Não está para partir para o Brasil? Vai ver que só lhe fará bem!
    Um grande beijo

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  2. Ana,
    A dor vai e vem sem aviso e ultimamente insiste em ficar comigo muito tempo. Não consigo encontrar explicação nem motivo concreto, mas talvez tenha razão, a data aproxima-se...
    Sim, vou mudar-me para o Brasil na esperança de sair deste buraco onde me encontro sem forças para sair. Também acho que me vai fazer bem.
    Um grande beijo*

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